sábado, 9 de junho de 2007

Oportunidades iguais, chances diferentes.

A vida oferece a todos as mesmas oportunidades, porém com chances e valores bem diferentes. O caso mais recente do que estou narrando aconteceu a pouco tempo em Brasília, quando dois irmãos, gêmeos pleiteavam vagas no sistema de cotas para alunos afro-descendentes. Um conseguiu e o outro só depois do caso vir a público teve sua vaga levada em consideração.
Algumas pessoas nascem com uma espécie de bênção que já as coloca em estado de vantagem sobre as demais. Outras, depois de muito estudo e esforços, conseguem alcançar algo, porém jamais com as mesmas chances das, por assim dizer, “iluminadas”.
Conheço centenas de casos onde o mero acaso transforma um “zé ninguém” em celebridade. Analisem o caso do Silvio Santos, por exemplo. O homem consegue transformar uma rixa com um comediante que o imitava em audiência no domingo! E ainda mais, faz com que o contrato de concessão de utilização da sua imagem seja paga não em dinheiro, mas em arrecadações diárias ao Retiro do Artistas e consequentemente, tornando-se simpático para o público que o estava hostilizando por não querer renovar o contrato.
Sem sombra de dúvida o Silvio Santos é um homem de rara inteligência, mas quantas pessoas inteligentes conseguem sair da condição de camelô para se tornar um megaempresário com direito até a uma concessão de uma rede televisiva. Quem é capaz de dizer que a telesena não é um título de capitalização?
Voltemos ao assunto principal.
Alguém já parou para analisar o sistema do PROUNI? O nome é Programa Universidade Para Todos, mas não é para todos, apenas aqueles que terminaram o ensino médio no ano anterior ou professor da rede pública de ensino. Há uma pré-seleção dos candidatos e ainda tem a prova.
Até mesmo a Bolívia oferece universidade pública para todos que terminem o ensino médio! Certo que depois formado, o aluno tem que trabalhar dois anos para o governo como forma de pagamento aos seus estudos.
Quantos são os gênios que morrem em extrema pobreza e são reconhecidos após a sua morte? Mozart era genial, mas foi enterrado como indigente.
Como saber se uma pessoa terá as mesmas chances que a outra? Como entender essa matemática louca da vida?
Há muitos mistérios indecifráveis no cosmo. Como se cada pessoa já nascesse com um brilho próprio e específico. Uns mais fortes outros mais fracos e também há aqueles que só brilham em razão de outros.
Acho graça, agora que estou relendo o que escrevi, pois no meu tempo de faculdade, discutia-se muito a “ideologia do dom”. Alguns acreditavam que as pessoas já nascem com um determinado dom, mas isso é uma grande mentira. Na verdade, as pessoas nascem com uma espécie de “marca cósmica” que irá determinar o futuro ou o fracasso dessa pessoa ao longo de sua trajetória.
Entendam bem, eu não estou escrevendo tudo isso porque estou revoltadinha ou porque estou me queixando de algo, é apenas uma constatação, pura e simples, do que ocorre na vida de um modo geral.
Quero registrar a minha vida e meus feitos ou mal feitos, enquanto ainda puder desfrutar deles, pois, quando morrer, quero que me esqueçam.
Não quero que digam que era isso ou aquilo ou que era inteligente depois de morta. Se sou, se acham, que aproveitem esse sopro que ainda perdura para o dizerem, depois de nada adiantará.
Não posso negar que a vida me foi bem generosa no quesito oportunidades, eu as deixei escoar por entre meus dedos e hoje estou tentando resgatar alguns pequenos grãos que ainda me sobraram. Não estou tentando recomeçar nada, porque acho que essa história de recomeço não existe, não se junta pedaços, não se cola cristais.
A vida é um enorme túnel de cristal e se alguma parte se rompe, impossível de se recuperar sem marcas. A cada ano que se passa, o túnel se estreita, tornando cada dia mais difícil sair e ultrapassar barreiras sem se arranhar ou quebrar algo. Por isso, quero o meu lugar marcado agora, hoje, sem amanhã. Sem essa de “segunda chance”. Quero apenas ter a oportunidade de conseguir pegar a chance que está ao meu alcance, sem medo de levar uma rasteira.
Aliás, os meus medos são reais e palpáveis. Não gosto muito de sonhar.
Acho sonhar perda de tempo e energia. Quero apenas, me permitir realizar, sem mais ficar adiando por esse ou aquele motivo, achando que as coisas se resolvem com o tempo.
Não tenho mais a pretensão de ser brilhante e ímpar, pois já cheguei à conclusão que esse não é o meu destino. Mas quero criar a chance de fazer algo, nem que seja pequeno para, por fim, ser esquecida.

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