sábado, 16 de fevereiro de 2008

A inveja


Dos piores sentimentos que alguém pode sentir, o pior é a inveja.
Antes de me casar eu nuca tinha conhecido de perto uma pessoa invejosa.
Talvez a falta de responsabilidade não tenha deixado que eu não enxergasse que existem pessoas assim.
Eu não sou uma pessoa que goste muito de ter uma vida social muito agitada até porque eu não sou uma pessoa muito sociável, mas quando compramos o nosso terreno, eram muito pouco moradores e, como era uma área meio isolada, as pessoas resolveram que iriam “se ajudar” e foi assim que se formou a confusão.
As pessoas começaram a se reunir nos finais de semana e fazer almoço na casa de um, churrasco na casa de outro e a falar mal uns dos outros.
Eu ficava ali no meio daquele monte de gente que se julgava melhor do que todo mundo ouvindo seus absurdos sem poder falar nada porque meu marido dizia que EU é que arrumava briga com todo mundo.
Eu sinceramente acho a grande maioria das pessoas que moram aqui meio ridículas, pois ao invés de cuidarem da sua própria vida ficam se metendo na vida dos outros.
E eu que sou uma pessoa muito na minha, que faço as coisas no meu tempo e não por obrigação, tive que aturar frases do tipo “se eu fosse você...”
Eis o x da questão: se a pessoa fosse eu, eu não seria eu, então, vai tomar conta da sua própria vida e me deixa em paz!
Vizinho bom para mim é aquele que não bate na minha porta a não ser por uma emergência, quando eventualmente precisa de alguma coisa e convite para festa é, para mim, mera questão de educação, pois eu raramente vou.
Mas eu conheci pessoas nesse meio em que vivo pessoas realmente muito invejosas. Algumas eu considero como vampiros psicológicos, pois nos sugam tão completamente com sua presença que nos deixam cansados e até mesmo doentes.
Para minha sorte, tive que conviver apenas com duas pessoas assim e garanto que não foi a experiência mais agradável na minha vida.
Eu acho realmente estranho o que as pessoas invejam na gente.
Eu sou uma pessoa muito simples e que leva uma vida mais simples ainda: Minha casa não está acabada, não tenho carro, não ostento jóias, nada. Não há nada em minha vida que a meu ver pudesse ser invejado por outras pessoas, mas o invejoso sempre arranja um motivo, mesmo que ele não exista.
Conheci uma pessoa certa vez que nunca realizou nada sozinha e por isso invejava qualquer pessoa que tivesse pago 72 prestações de seu terreno em dia. Ora! Comprar um terreno de 200 metros quadrados em 72 prestações não deveria ser motivo de inveja para ninguém, mas essa criatura invejava!
Essa criatura infeliz invejava até quem comprava geladeira em 24 prestações!
Eu, como passei u tempo no SPC, quando queria comprar algo passava meses economizando e guardando dinheiro e quando comprava algo tinha que ser à vista porque estava com o nome sujo na praça, isso a imbecil não via, mas cada vez que comprava algo a peste arranjava um motivo para vir à minha casa bisbilhotar.
Fosse qual fosse o motivo a bisbilhotona sempre dava um jeito de identificar o produto novo adquirido e, lógico, colocar defeito e falar que não sei quem tinha comprado um BEM melhor. Qué que me interessa quem comprou o quê?
Tudo era alvo da inveja dessa criatura até planta! Se mentira nenhuma! A peste tinha inveja daqueles matinhos coloridinhos que a gente compra por 0,30!!
Fiz de tudo um pouco para afastar esse erva daninha do meu pé: fiz reza, simpatia, oração, macumba, deixei de falar com ela, troquei o número do celular, do telefone fixo, deixei de passar em frente à casa dela (embora fosse o caminho mais curto para sair do condomínio) e, quando eu já estava quase desistindo e me mudando, me ensinaram jogar terra de cemitério na varanda da pessoa que ela mudava.
Só mesmo uma pessoa muito desesperada para tentar uma loucura como essa, mas como o dia de finados estava chegando eu achei que poderia tentar.
No dia de finados eu coloquei uma roupa bem discreta e parti para o cemitério mais próximo de minha casa. Na entrada comprei umas flores e entrei decidida a levar nem que fosse um pouquinho de terra para a jabiraca. Escolhi uma tumba e comecei a fazer meu showzinho: chorei, gritei, me descabelei por um defunto que nem sabia o nome. Depois abaixei discretamente e recolhi um pouquinho de terra do gramado, coloquei num saquinho e sai mais rápido do que entrei. Estava tão ansiosa que nem trouxe a terra para casa. Assim que passei pela porta da dita cuja joguei o saquinho de uma vez só!
Coincidência ou não, três meses depois estaria me livrando da peste!
Recomendo: se você tem um desafeto jogue terra do cemitério na casa dela, é tiro e queda!
Meu outro desafeto era uma senhora que trabalhava comigo. A mulher fazia de um tudo errado! Jogava dinheiro pelo ralo e depois ficava com inveja do pouco que as pessoas conseguiam.
Se contar os absurdos que fazia ao se alimentar, pois como a maioria dos brasileiros, fazia compras uma vez por mês e na semana após as compras começava a cozinhar compulsivamente e a comer como se o mundo fosse acabar. A conclusão era sempre a mesma: nas duas semanas que faltavam para terminar o mês quase não tinha o que comer. Passava os dias de olho na marmita das outras pessoas que trabalhavam com ela.
Não podia ver ninguém comprar nada que pegava seu cartão de crédito e tentava comprar um melhor. Vivia sempre enrolada com dinheiro que faltava e quase enlouquecia todos que conviviam com ela quando chegava a fatura do cartão.
Na minha opinião, a inveja me parece um tipo de doença. Nos dois casos em que citei é fácil perceber o nível e a motivação das duas pessoas. A primeira era uma recalcada que vivia uma vida emprestada e a segunda era uma pessoa totalmente compulsiva.
Eu nunca desejei nada que outra pessoa tenha ou senti inveja de uma pessoa por ela ter conseguido ser mais do que eu. Sempre tive em mente que as coisas que não consegui não era por culpa de ninguém a não ser minha.
Sempre tive meus sonhos sim, mas esses não passavam nem perto da vida de outras pessoas. Talvez eu sofra de uma outra patologia tão grave quanto que é o egocentrismo, entretanto, meu egoísmo não prejudica ninguém.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário é muito importante.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...