domingo, 17 de fevereiro de 2008

Amizade

Outro dia ouvi a grande atriz Fernanda Montenegro falar sobre a amizade e as relações entre as pessoas hoje em dia.
Fernanda falava sobre uma minissérie que vai iniciar agora dia 18/02.
A minissérie fala sobre a amizade que não se perde com o tempo, mas que pode ser resgatada a qualquer momento.
Fernanda Montenegro lamentava que hoje em dia perdemos a capacidade de fazer amigos e, o que acho ainda pior, de sermos amigos.
O que mais me tocou na entrevista foi que há bem pouco tempo tivemos uma reunião de pessoas em Paquetá. A grande diferença entre a nossa reunião é que éramos apenas conhecidos, poucos eram amigos de longa data.
Era exatamente isso que a grande atriz falava e que me tocou muito: hoje em dia não temos mais amizades e sim pessoas com quem convivemos.
Hoje temos toda tecnologia à nossa disposição e não temos mais a capacidade de confiar uns nos outros.
Deixamos que o egoísmo nos tornasse mesquinhos e vazios de sentimentos.
Antes convivíamos com pessoas o tempo todo, hoje quase não precisamos mais sair do nosso refúgio sacrossanto de nosso lar para quase nada e, assim, nos mantemos isolados.
A televisão foi o primeiro fator de isolamento, pois as pessoas não precisavam mais sair para obter entretenimento, depois vieram os videogames, os computares, a Internet...
Não que não se possa haver amizade sincera através da telinha do computador, só que falta o contato físico, não conhecemos a voz das pessoas, seus gestos, suas maneiras e, algumas vezes nos decepcionamos quando chegamos a conhecer a pessoa na vida real.
A amizade é a única coisa que nos acalenta em horas de dificuldade e estamos perdendo a capacidade de nos comunicar, expressar e conviver com as pessoas.
Claro que continuamos a nos relacionar com pessoas em nosso cotidiano, entretanto, perdemos a nossa capacidade de entrega. Como se a capacidade de amar nos tivesse sido roubada pelos deuses como um castigo por ter usar tanta tecnologia.
Algumas vezes sinto falta dos meus amigos de caminhada, mas sinto que não consigo mais me relacionar com a mesma sinceridade e transparência com eles. Também perdi a capacidade de amar sem fronteiras e o medo de quebrar a lembrança dos velhos tempos me impede de ter um relacionamento real com eles.
Eu pensava ser o tempo o grande vilão que havia me transformado em uma pessoa insensível, depois pensei ter nascido assim, diferente de outras pessoas, porém, observando os mais jovens cheguei à triste conclusão de que foi o mundo que ficou mais frio. As pessoas por medo de sofrer não arriscam mais em suas relações.
Eu vivo de minhas belas recordações do passado, mas temo pelos jovens deprimidos que não terão sequer um amigo fiel para se recordar.
Minhas lembranças são muito mais do que muitos terão no futuro e, mesmo assim, sinto que minhas relações estão se dissolvendo como papel em água.
Ainda outro dia estava lendo o blog de um amigo muito querido e notei que ele foi agredido verbalmente por uma pessoa que não quis se identificar e que provavelmente não o conhece.
Esse amigo criticava a baixa qualidade da literatura produzida nos dias atuais e foi criticado por uma quantidade de imbecis que não se sabe muito bem como foram parar em seu blog.
Eu penso que a qualidade da nossa literatura está intimamente ligada à baixa qualidade das relações humanas. Não se tem intensidade para amar, não se sofre mais por amor e sim por melancolia, por isso aparecem os oportunistas que se aproveitam da necessidade de sentir das pessoas e lançam no mercado verdadeiros lixos que viram “os queridinhos” nas mãos de pessoas sedentas de emoções, mesmo que falsas emoções.
Há quanto tempo você não dá ou recebe um abraço sincero?
Fica difícil saber, pois esquecemos como lidar com nossos sentimentos verdadeiros.
Quantas vezes engolimos o choro para que não nos vejam tristes?
E por que fazemos isso?
A resposta é simples: por medo da reação que iremos despertar nos que estão em nossa volta.
Quantas vezes nos sentimos traídos por pessoas as quais confessamos nossos sentimentos?
E por que isso acontece?
Por que não há cumplicidade e fidelidade entre as pessoas?
Será que estamos tão carentes de amigos, de carinho que acabamos entregando nossos segredos para qualquer oportunista que se finja de amigo?
Amizades sinceras são tão difíceis de encontrar que nos resignamos a manter relações superficiais. Essas relações nos tornam cada vez mais insatisfeitos e, como uma bola de neve, essa insatisfação nos deixa a alma doente.
Alma doente? Isso parece um tanto poético, mas é o único termo que encontro para classificar o conjunto de sentimentos dos seres humanos, como se fosse um sinônimo.
Poético ou não, quando a alma das pessoas está ferida o corpo sente-se cansado, sem disposição e acaba adoecendo também.
Somos uma legião de doentes de corpo e alma.
Muito se discute sobre a depressão suas causas e conseqüências, mas nada se fala sobre a falta de sentimento entre as pessoas. A depressão é causada principalmente pela solidão, pelo isolamento.
Vendo na televisão algumas chamadas da nova minissérie global me deu uma vontade imensa de tentar reunir alguns de meus velhos amigos. Lógico que não éramos tão amigos quanto os da minissérie, mas fizemos uma história juntos e teríamos muitas histórias para contar, entretanto a covardia me impede de sequer tentar, até porque eu não teria um motivo que justificasse cada um abandonar sua vida para tal propósito.
Poderia citar aqui vários nomes de pessoas que passaram pela minha vida e que gostaria de rever, entretanto prefiro não fazê-lo por medo de ser injusta e esquecer alguém.
Gostaria de terminar essa publicação deixar um beijo e um abraço bem apertado para todos os amigos que fizeram e fazem parte da minha vida.

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