terça-feira, 17 de novembro de 2009

Histórias de Natal



Todos os anos, quando começa a chegar a época das festas de final de ano, eu começo a me sentir realmente triste.
É uma tristeza tão profunda que chega a doer e a me dar vontade de chorar.
Sempre foi assim e nunca parei para pensar porque isso acontecia.
Esse ano resolvi parar e me lembrar de todos os natais da minha vida para tentar explicar essa minha tristeza.
Todos os natais que conseguia me lembrar foram passados em um hotel em Lambari, cercada de gente estranha. Algumas a gente encontrava por tantas vezes que acabava fazendo amizade.
Puxando um pouco mais pela memória, me lembrei de umas férias em que a minha avó e a tia Aracy vieram passar conosco e daquela noite em que a vizinha do 13º andar, D. Alice, veio buscar minha mãe para atender um interurbano de São Paulo.
Meu tio Flávio tinha morrido.
Acontece que justamente no natal anterior nós passamos com ele e foi uma noite muito feliz para todos. Ele brincava com a gente como se tivesse a nossa idade. Fez chapéus e espadas de jornal para brincarmos de “marcha soldado”.
A princípio eu não conseguia me lembrar das coisas com riqueza de detalhes, até porque era muito criança na época, mas a memória da gente parece um emaranhado de fios que quando a gente puxa um para desenrolar a coisa vai se soltando e um fato puxa outro, que puxa outro...
Eu cheguei a sorrir, lembrando como me senti na época.
Acontece que depois daquele telefonema, nunca mais passamos os natais em família. Até porque meu pai é português e tem apenas um primo no Brasil, a esposa do meu falecido tio resolveu passar o natal com as irmãs dela e minha avó com a tia Aracy.
Depois do natal, a gente ia para a casa de meus avós em São Paulo e nos reuníamos para comemorar a passagem do ano, época que meu avô mais gostava.
Ainda consigo me lembrar dele nos esperando, sentado no alto da escada e, assim que nos avistava, vinha correndo nos abraçar.
Chego até mesmo me lembrar o cheiro de fumo de cachimbo que exalava de seu corpo quando nos abraçava.
Essas lembranças são tão preciosas para mim...
Quando meu avô morreu, minha mãe não viu mais sentido em se reunir com a família e decidiu prolongar a nossa estadia no hotel até o ano novo e convidar minha avó para ir com a gente.
Tudo ficou tão frio, tão impessoal...
Os presentes a gente recebia antes porque ia viajar. A ceia, as bebidas eram preparadas por pessoas desconhecidas. Tudo perdeu completamente a sua mágica.
Quando algo se quebra, não há mesmo como colar sem deixar marcas.
O grande problema do ser humano é que quando algo quebra por dentro, na alma, deixa marcas que nos acompanham a vida inteira, nos deixando sempre uma sensação ruim sempre que nos lembramos do fato.
Nesses últimos anos, tentei reunir o que me sobrou da família e acabar de vez com essa sensação de tristeza, mas ao longo dos anos mais coisas “se quebraram” na alma da gente e tudo que consegui foi juntar um bando de gente que preferia estar em outro lugar vestidos com o seu melhor “sorriso amarelo”.
Eu me sinto hoje como se tivesse, além de tudo, falhado com todos, pois prometi que “a maldição” ia acabar e isso não aconteceu.
Para o meu marido, essa é a época mais feliz do ano. Ele tem lembranças muito bonitas de sua infância, apesar de passar o natal no mesmo hotel que a gente.
Eu me sinto até um pouco egoísta em não compartilhar do mesmo sentimento, mas a verdade é que gostaria de ter lembranças mais felizes da época, mas tudo que consigo me lembrar é triste.
Sinto falta do tempo em que éramos crianças e, quando brigávamos nessa época, minha mãe obrigava a gente a fazer as pazes porque era natal!
Agora somos um bando de pessoas que acha que tem sua própria família e que não dá para ser feliz se a gente se misturar.
Ninguém tolera sequer um comentário de minha mãe, que já está idosa, sem transformar tudo em uma briga.
Eu queria poder dizer para não brigarmos no natal, justamente porque é natal!!
Queria poder colar os cacos da minha alma para não me lembrar de tantos fatos tristes justamente porque é natal.
Simplesmente não queria que todas as coisas ruins que aconteceram na minha vida fossem lembradas justamente nessa época.
Gostaria de me sentir feliz realmente e afastar, pelo menos nessa época, todos os meus pensamentos ruins e conseguir reunir toda a minha família, mas toda, incluindo os pais, irmãos, primos e tios de todos que entraram para ela.

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