quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

"Porque o perdão também cansa de perdoar"



Angelina nunca fora a preferida de sua mãe.
Primogênita de uma família cinco filhos, Angelina fazia de conta que era feliz, apesar dos pesares.
As mágoas acumulavam, mas não havia o que fazer.
Certa vez, a família fez um passeio por uma feira de artesanato e Angelina se apaixonou por casal de Pierrôs em porcelana, mas não tinha dinheiro suficiente para comprar. Angelina "namorou" os bonecos, contou seu dinheiro mais de dez vezes e chamou a mãe e explicou a situação. A mãe olhou os bonecos, pediu dinheiro ao pai de Angelina e comprou.
Ao chegar em casa, a mãe de Angelina pendurou os dois bonecos na parede de seu quarto como um troféu e isso deixou a menina magoada.
A menina cresceu assim: Sempre ouvindo que a sua inteligência era na média, que era uma aluna mediana, que não era boa em nada e que este ou aquele irmão era melhor que ela em alguma coisa.
Talvez por isso tenha casado cedo, para fugir de onde não era desejada.
Com o casamento, sua relação com sua família ficou mais complicada ainda, uma vez que sempre preferiu morar relativamente longe, porém, sempre que se encontravam, Angelina percebia que nem a saudade fazia com que fosse tratada melhor por sua mãe.
Os irmãos de Angelina foram se casando e se mudando, exceto o irmão mais novo, que preferiu ficar solteiro.
Como todos os outros irmãos mudaram-se para longe, Angelina se sentia um pouco menos desvalorizada na casa de sua mãe e, pensou que tudo poderia ser diferente dessa vez.
Apesar de tudo, a mãe de Angelina continuava a fazer diferença entre ela e o irmão, mas ela se conformava, pensando que era justo, já que ele morava com a mãe.
Não se sabe se foi "cafezinho temperado", "macumba da braba" ou por idiotice aguda, mas do nada, seu irmão resolve se casar com um mulher que mal conhece e conta uma história triste para todos sobre a moça e a mãe de Angelina mais uma vez apóia seu filho, apesar dos protestos da moça - que a essa altura nem era mais tão jovem assim.
Tudo mudou novamente e Angelina percebeu isso quando foi na casa da mãe e abriu a caixa com os dois brincos que a mãe disse que tinha comprado para ela e só havia um. A mãe disse que se enganou em falar que eram dois.
A mãe ofereceu inclusive a joia de família que foi usada e dada para Angelina no dia do seu casamento - isso sem consultar a filha que, lógico não queria emprestar e se sentiu ofendida da mãe ter oferecido algo que era seu sem lhe consultar.
Na semana do casamento, o mesmo e curioso fato dos bonecos de porcelana aconteceu, mas com outro objeto, claro.
Angelina percebeu que, não adiantava o que fizesse, não importava quem, mas sempre a sua mãe ia dar preferência a outra pessoa que não fosse ela e decidiu que era hora de parar de lutar contra o inevitável e deixar sua mãe com "seus preferidos".
Algumas vezes não adianta remar contra a maré...
Angelina seguiu sua vida sem olhar para trás e sem remorso, afinal, sempre que precisou da mãe ela tinha algo mais importante para fazer ou para pagar e não podia ajudar, enquanto dava presentes caros para seu irmão e cunhada porque eles eram bons para ela...
Era o fim da linha para ela, não ia mais se humilhar por mais nenhuma migalha que viesse de sua mãe.
Inconformada, pois queria manter as aparências para a recém chegada à família, a mãe de Angelina tentou de tudo: chantagem emocional, tentou obrigar Angelina, compra a moça, só não tentou dar amor e compreensão e Angelina não voltou atrás.
Angelina queria apenas ser amada de forma igual em sua família, mas isso nunca aconteceu. Apesar de se sentir triste, era a sua realidade e não podia mudar isso. Não se pode exigir amor de ninguém...



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